Acho que assim como a arte ainda pretendia ser difícil no começo dos anos 1960 e só gradualmente se transformou em outra forma de entretenimento de massa por meio das molecagens da pop art, da mesma forma a política era austera e marxista em 1960, mas tornou-se "divertida" nos anos 1970, transformando-se no psicodrama da nova esquerda.
De fato, tudo nos Estados Unidos que eu conhecia depois de 1965 estava esquentando, tornando-se mais subjetivo e democrático, mais divertido e acessível. Embora à minha própria maneira eu também estivesse me tornando pessoal através de meus escritos, nunca me convenci inteiramente de que esse era o jeito certo. Ainda idolatrava os poetas modernistas difíceis como Ezra Pound e Wallace Stevens, e ouvia com solene mas ignorante seriedade a música de Schoenberg. Mais tarde, aprendi a escolher meu rumo idiossincrático nas fileiras de escritores, compositores, artistas plásticos e cineastas canônicos, mas aos 20 anos ainda sentia inquestionável admiração pelos Grandes - que eram Grandes exatamente porque eram Grandes. Só mais tarde foi que comecei a ver a venda da grande arte como apenas mais uma forma de comercialismo. Nos meus 20 anos, se até mesmo uma décima leitura de Mallarmé não conseguia revelar seus tesouros, o erro era meu, não dele. Se meus olhos se fechavam de sono quando eu lia A fugitiva - Albertine desaparecida, o ritmo de Proust nunca era questionado, mas apenas minha inteligência, dedicação e sensibilidade. E eu ainda alimentava esses preconceitos sacralizantes sobre a grande arte. Ainda admirava o que era difícil, embora agora eu reconheça que isso é um gosto de "época" e que minha geração foi a última a lhe dar valor. Embora fôssemos ateus, estávamos, estranhamente, nos preparando para o grande show de perguntas e respostas de Deus; tínhamos de saber tudo porque estávamos convencidos de que seríamos testados sobre isso - na próxima vida.
Edmund White, City Boy: Minha vida em Nova York, 2012.
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