viernes, 21 de noviembre de 2008

Marcel Duchamp: Engenheiro do Tempo Perdido (Pierre Cabanne)

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- Então, para resumir seu começo de carreira: uma família burguesa, bastante prudente e bem convencional. A atitude antiartística que você tomou mais tarde não foi uma reação, uma revanche, contra esse estado de coisas?

- Sim, mas eu não era muito seguro de mim mesmo. Sobretudo no começo... Quando você é jovem, não pensa filosoficamente; você não diz: “Tenho razão? Estou errado?” Você simplesmente segue uma linha que agrada mais que a outra, sem refletir muito sobre a validade do que faz. É mais tarde que você se pergunta se estava certo ou errado, ou se deveria ser diferente. Entre 1906 e 1910 ou 1911, eu mais ou menos flutuei entre diferentes idéias: fauvismo, cubismo voltando algumas vezes a coisas um pouco mais clássicas. Um acontecimento importante para mim foi a descoberta de Matisse, em 1906 ou 1907. (32)


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Qual é a origem dessa tela?

- A origem é o nu em si mesmo. Fazer um nu diferente do clássico, deitado, em pé, e col
ocá-lo em movimento. Havia ali alguma coisa de engraçado, que não era tão engraçado quando eu o fiz. O movimento apareceu como um argumento para que eu me decidisse a fazê-lo.

No Nu Descendo uma Escada [1912] eu queria criar uma imagem estática do movimento: o movimento é uma abstração, uma dedução articulada no interior da pintura, sem que se saiba se uma personagem real desce ou não uma escada igualmente real. No fundo, o movimento é o olho do espectador que o incorpora ao quadro. (50)

- (...) O que contribuiu para o interesse provocado por esta tela foi o título. Não se faz uma mulher nua que desce uma escada, é ridículo. Não parece ridículo agora, porque já se falou muito sobre isso, mas quando era novo, sobretudo comparado ao nu, parecia escandaloso. Um nu deve ser respeitado.

No plano religioso, puritano, também foi ofensivo. Tudo isso contribuiu para a repercussão do quadro. (75)


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- Toda a pintura, a começar pelo impressionismo, é anticientífica, mesmo Seurat. E por isso eu estava interessado em introduzir o aspecto preciso e exato da ciência, o que não havia sido feito o bastante, ou, ao menos, não se falava muito. Não foi por amor à ciência que o fiz, [O Grande Vidro] ao contrário, foi para desacreditá-la, de uma maneira doce, leve é sem compromisso. Mas a ironia estava presente. (66)

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De onde veio sua atitude anti-retiniana?

- Da demasiada importância dada ao retiniano. Desde Coubert, acredita-se que a pintura é endereçada à retina; este foi o erro de todo o mundo. O frisson retiniano! Antes, a pintura tinha outras funções, podia ser religiosa, filosófica, moral. Se eu tivesse tido a oportunidade de poder tomar um atitude anti-retiniana, infelizmente, não teria mudado grande coisa; todo o século é completamente retiniano, exceto os surrealistas que tentaram, um pouco, sair disso. E mesmo assim, não conseguiram sair totalmente! Breton, para falar a verdade, acredita que está julgando do ponto de vista surrealista, mas, no fundo, é sempre a pintura retiniana que o interessa. É absolutamente ridículo. Isso tem que mudar; não foi sempre assim. (73)

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- Como você veio a escolher um objeto produzido em série, um ready-made, para fazer uma obra de arte?

- Note bem, não queria fazer uma obra de arte. A palavra ready-made só apareceu em 1915, quando fui aos Estados Unidos. Ela me interessou com palavra, mas quando coloquei uma roda de bicicleta sobre um banco, o garfo invertido, não havia ainda qualquer idéia de ready-made ou coisa parecida, era apenas uma forma de distração. Não havia uma razão determinada para fazer aquilo, ou alguma intenção de exposição, de descrição. Não, nada disso...

- Mas, mesmo assim, um pouco de provocação.

- Não, não. É muito simples. (...).

Em 1914 fiz o Porta-Garrfas. Comprei-o, simplesmente, no bazar do Hôtel-de-Ville. A idéia da inscrição veio naquele momento. Havia uma inscrição no porta-garrafas a qual esqueci. Quando me mudei da Rue Saint-Hippolyte para os Estados Unidos, minha irmã e minha cunhada pegaram tudo e jogaram no lixo. E não se falou mais sobre isso. Foi sobretudo em 1915, nos Estados Unidos, que fiz outros objetos com inscrições, como a pá de neve, na qual escrevi qualquer coisa em inglês. A palavra ready-made veio a mim naquele momento, e parecia bastante conveniente para essas coisas que não eram obras de arte, não eram desenhos, e que não se encaixavam em nenhum dos termos aceitos no mundo artístico. Foi por isso que fiquei tentado a fazê-lo.

- O que determinava a escolha dos ready-mades?

- Isto dependia do objeto; em geral, era preciso tomar cuidado co o seu look. É muito difícil escolher um objeto porque depois de quinze dias você começa a gostar dele ou a detestá-lo. É preciso chegar a qualquer coisa com uma indiferença tal, que você não tenha nenhuma emoção estética. A escolha do ready-made é sempre baseada na indiferença visual, e ao mesmo tempo, numa ausência total de bom ou mau gosto.

- O que é gosto para você?

- Um hábito. A repetição de uma coisa já aceita. Se você recomeça uma coisa muitas vezes, ela fica sendo o gosto. Bom ou mau, é a mesma coisa, é sem
pre gosto.

- Como você fez para escapar ao gosto?

- Pelo desenho mecânico, ele não suporta nenhum gosto porque está fora de toda convenção pictórica.

- Você se defendeu constantemente contra a realização...

- ... de fazer uma forma no sentido estético, de fazer uma forma ou uma cor. E repeti-las.

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É uma atitude antinaturalista que, mesmo assim, você exerceu sobre objetos naturais.

- Sim, mas para mim é a mesma coisa; não sou responsável. Foi feito, não fui eu que fiz. Há uma defesa, eu me opunha à responsabilidade. (79-81)


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- Em abril de 1916 você participou de uma exposição em New York, chamada “Quatro Mosqueteiros”, os outros três eram Crotti, Metzinguer e Gleizes. Você estava também entre os fundadores da Sociedade dos Independentes e apresentou na primeira exposição um urinol de porcelana intitulado Fonte
, assinado R. Mutt, que foi recusado.

- Não recusado. Não se podia recusar uma obra nos Independentes.

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Digamos que ela não foi admitida.

- Foi simplesmente suprimida. Eu estava no júri, mas não fui consultado, porque os jurados não sabiam que fora eu que havia enviado; escrevi o nome Mutt para evitar quaisquer relações com coisas pessoais. A Fonte foi simplesmente colocada atrás de uma divisória e, durante
toda a exposição, eu não sabia onde estava. Não podia dizer que fora eu quem havia enviado esse objeto, mas acho que os organizadores o sabiam pelos boatos. Ninguém ousou comentar. Fiquei chateado com eles, e me retirei da organização. Depois da exposição, achamos a Fonte atrás da divisória e eu a recuperei!

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É um pouco a mesma aventura por que você passara no Salão dos Independentes de 1912 em Paris.

- Exatamente. Não conseguia fazer nada que fosse aceito de imediato, mas isso não tinha importância para mim.

- Você diz isso agora, mas na época...?

- Não, não, ao contrário. Era, assim mesmo, bastante provocativo.

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Então, desde que você tivesse procurado o escândalo, você estava contente.

- Foi, com efeito, um bom resultado. Neste sentido. (92-93)


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- E depois, você estabeleceu nitidamente o tom da revolta pelo seu escândalo da Gioconda
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- Isto foi em 1919...

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Logo antes de retornar aos Estados Unidos.

- Outubro de 1919 (...). Trouxe minha Gioconda para colocá-la na minha bagagem, e Picabia aproveitou para, antes, publicá-la na 391; ele mesmo a reproduziu, colocando um bigode, mas se esquecendo da barbicha. Isto que fez a diferença. Muitas vezes a Gioconda de Picabia é reproduzida como sendo a minha. (105-106)


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- Creio que a pintura morre, compreende. O quadro morre ao fim de quarenta ou cinqüenta anos, porque seu frescor desaparece. A escultura também morre. É uma idéia fixa minha que ninguém aceita, mas não importa. Penso que um quadro ao final de alguns anos morre, como o homem que o fez; em seguida, isto é chamado história da arte. Existe uma enorme diferença entre u Monet hoje, que é escuro como tudo, e um Monet sessenta ou oitenta anos atrás, quando era brilhante, quando foi feito. Agora, entrou para a história, é aceito como tal, e além doais, tudo bem, isto não muda nada de qualquer forma. Os homems são mortais, os quadros t
ambém.

A história da arte é uma coisa muito diferente da estética. Para mim, história da arte é o que restou de uma época em um museu, mas não é necessariamente o melhor desta época, e, na verdade, pode ser até mesmo a expressão da mediocridade dela, porque as coisas belas desapareceram, o público não quis guardá-las. Mas isto é filosofia... (117)


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- (...) É o espectador que faz os museus, que provê os elementos de um museu. O museu é a última forma de compreensão, de julgamento? A palavra “julgamento” é, também, uma coisa terrível. É totalmente aleatória, totalmente sem valor. Que uma sociedade se decida a aceitar certas obras e a fazer um Louvre, que dura alguns séculos, vá lá. Mas falar de verdade e de julgamento real, absoluto, não acredito.

- Você visita museus?

- Quase nunca. Não vou ao Louvre há vinte anos. Não me interessa mais por causa desta dúvida que eu tenho respeito do valor desses julgamentos que decidiram que todos aqueles quadros deveriam ser expostos no Louvre no lugar de colocar outros que jamais foram considerados e que poderiam estar lá. No fundo, as pessoas se satisfazem com a opinião de que existe uma espécie de paixão passageira, uma moda baseada no gosto momentãneo; este gosto momentãneo desaparece e, apesar de tudo, certas coisas ainda ficam. Isto não se explica muito bem, e também não pode ser muito bem sustentado.

- Você, porém, aceitou que todas suas obras ficassem em um museu?

- Aceitei porque existem algumas coisas práticas na vida que não se pode impedir. Não ia recusar. Poderia tê-las rasgado ou quebrado, o que seria também um gesto idiota.

- Você poderia ter pedido que elas não ficassem em um lugar público.

- Não. Isto seria de uma pretensão maluca. (123-124)


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- (...) Não atribuo ao artista esta função social em que ele se acha obrigado a fazer qualquer coisa, em que tenha um dever para com o público. Tenho horror de todas estas considerações. (138)

O indivíduo, como tal, como cabeça, se você quiser, me interessa mais do que o que ele faz, porque notei que a maior parte dos artistas não faz mais do que se repetir. De qualquer forma, isto é forçado, não se pode sempre inventar. Só que eles têm esse velho hábito que os leva a fazer, por exemplo, uma pintura por mês. Tudo depende da velocidade de trabalho; eles pensam que devem à sociedade o quadro mensal, ou anual. (166-167)


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- (...) O quadro não é mais a decoração de uma sala de jantar, nem de um salão. Pensamos em outras coisas para decorar. A arte está tomando mais a forma de um signo, se você quiser; não está mais reduzida ao nível de decoração; é o sentimento que me dirigiu durante minha vida. (158)

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Pierre Cabanne, Marcel Duchamp: Engenheiro do Tempo Perdido, Perspectiva, 2008 (Debates; 200)

martes, 18 de noviembre de 2008

Patti Smith y el lenguaje

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«Me avergonzaba de lo que escribía, porque mis mejores amigos eran escritores muy buenos. No tenía confianza en mí misma. Yo era muy romántica y pensaba que lo que había que hacer era dejar que ese romanticismo se expresase. Ignoraba que la poesía del lenguaje era algo con vida propia. No sabía qué hacer con el lenguaje. Y por consiguiente lo empleaba para poner mis sueños por escrito. Pero nada más. No tenía ni idea de lo que es el estilo.» (Pgs. 44-45)

(Sobre sus años de formación, hacia 1964. Subrayados míos.)

En Victor Bockris, Patti Smith, Editorial Mondadori, 2001 .

lunes, 17 de noviembre de 2008

Watching the river flow (el Dylan de Paul Williams)

8 de juny de 2001
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Watching the river flow, de Paul Williams, un recull de textos sobre Bob Dylan des de 1963 fins a 1995. Reprenc la lectura que vaig començar fa mesos. Segueixo amb els assajos (en l’accepció nordamericana del mot) que tracten el seu període cristià. El més important, “Dylan- what happened?” (1979) representa un intent d’elucidar (to come to terms with) què va dur Dylan a abraçar la fe cristiana-evangèlica i començar a sermonejar l’audiència, dient-los que si no es convertien (com ell, born-again) i seguien el Crist, l’infern se’ls menjaria de viu en viu. Williams és un dels que, o la persona que, va traçar un paral.lelisme entre Dylan i Picasso. «My reference point recently for understanding Dylan is Picasso: indefatigable, the artist» (“One year later”, 1980), i ho fa en termes de generalització i especificitat reconciliades, és a dir, de transparència.

Paul Williams és un fan, devot, de Dylan, i això de vegades es fa massa evident en el llibre. Però en altres ocasions aconsegueix una distància crítica interessant, que permet estudiar la carrera dylaniana de forma eficient. Barreja vida i obra, perquè Bob Dylan sovint, si no sempre, parla d’ell mateix en les seves cançons, i perquè tot gran artista, de fet, és el que fa. Explico el món des del meu punt de vista, des de la meva percepció, a partir del que em passa. Això em permet parlar d’una pila de temes universals, com ara l’amor, la mort, Déu, el desig, etc..

Dylan arriba al Cristianisme a través de diverses crisis que se li ajunten. Crisi amorosa, d’identitat, professional. Els discos precedents a l’època religiosa parlen d’amor i de matrimoni: Planet Waves, Blood on the Tracks, Desire. L’Street Legal és una barreja de tot que ensenya clara la confusió que en aquells moments tenia al cap. Després: Slow Train Coming, Saved i Shot of Love, que, sense deixar de parlar d’amor, el tema eminent és Crist, Déu i la fe. Després Dylan enfila l’etapa que es podria anomenar d’apocalíptica (amb posits evidents de totes les seus períodes anteriors). Els estudiosos de Picasso parlen de la seva època rosa, de la blava, etc.. En Dylan podem diferenciar les èpoques amoroses, religioses, etc..

De vegades, no obstant, penso que Williams fa inferències molt agosarades a partir de les nombroses actuacions que ha vist del seu artista. Algun canvi en una estrofa, la manera més o menys enfàtica de cantar una lletra, i per l’estil. Com a mínim, resulta suggeridor i fins i tot és possible que afini molt (Dylan va comprar i va repartir 114 còpies de Dylan-What happened?, que es va publicar en llibre tan sols dues setmanes després d’haver estat escrit). La veritat interna, com en el cas de qualsevol altre artista, no se sabrà mai, a no ser que al senyor li vingui un atac de logorrea, citi a algun periodista i li expliqui la seva vida des del començament fins al final, i tot i així mai no podríem estar segurs de res, Dylan-geni de la mentida, formidable fabulador, com va demostrar en moltes de les entrevistes que va concedir als anys seixanta.
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Nota de 2008: la pel·lícula No Direction Home (2008), de Martin Scorsese, una obra mestra del documental rock, és aquest document tan esperat. Dylan hi explica coses que ningú s'imaginava que finalment sortirien per la seva boca. Però l'artista roman un esfinx.
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De la llibertat

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«La palabra libertad sirve para expresar una tensión muy importante, quizás la más importante de todas. Uno quiere siempre marcharse, y cuando el lugar al que uno quiere ir no tiene nombre, cuando es indeterminado y no se ven en él fronteras, lo llamamos libertad.» (Elias Canetti, 1942)
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Sobre algú que defuig qualsevol compromís, laboral, social, sentimental, ..., que entra i surt quan vol, però que si bé es mira està més sol que un mussol, sobre aquest, L pronuncia una paradoxa aguda: «aquest és un presoner de la seva llibertat.»
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La clef du bonheur (Roland Jaccard)

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Ce 25 mars 2000

Il m’arrive parfois, très passagèrement, d’éprouver une légere amertume à l’idée que mes essais littéraires ne brisen pas l’indifférence que, par ailleurs, je recherche. Il y a un vieux fonds d vanité qui se réveille et j’entends alors dans ma pauvre tête l’écho assourdi de cette phrase lamentable: “Pourquoi fait-on si peu cas de moi?” La clef du bonheur, disait Cioran, serait de ressentir une secrète volupté toutes les fois qu’on ne fait aucun cas de nous. Je doute y parvenir jamais, mais je ne désespère pas d’éviter le ridicule qu’il y aurait à se plaindre du peu d’attention qu’on vous porte. La quête de la reconnassance, sous quelque forme que ce soit, n’est jamais que l’aveu d’une infirmité.
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Roland Jaccard, Journal d’un oisif, PUF, 2002.
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Tomorrow never knows (Nick Bromell)

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Aquest és amb tota seguretat un dels llibres més interessants, més ben escrits i més seriosos sobre el fenomen rock als anys seixanta. Aquest llibre explica què significava aleshores asseure’s uns quants en una habitació i escoltar música. Trobar-se per escoltar música. I qualsevol persona que hagi fet això de forma conscient i amb aquella emoció personal i intransferible, però nascuda per a ser compartida , ja sigui als anys 60, 70, 80, etc., sentirà que també aquí s’està parlant d’ell. Les anàlisis són brillants, es percep en tot moment l’experiència de l’autor i a més a més, l’edició del llibre és primorosa.
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En el seu dia, acabada la lectura vaig escriure el següent:

20/03/2001

Part Metereològic:

Darrer llibre interessant que he llegit: Tomorrow Never Knows, de Nick Bromell. Un assaig sobre la dècada dels ’60 a través del rock i la psicodèlia. Un llibre que es basa especialment en la música i la lletra dels Beatles i de Dylan, a part de la relació rock-drogues, i també fa referència a altres autors i grups com Led Zeppelin, els Doors, Rolling Stones, a més de treballar acuradament el llenguatge del blues. L’autor parla del menyspreu que encara es té pel rock com a forma artística que va ajudar a crear la mentalitat de tota una generació de joves i que ha influït en el desenvolupament social, cultural i polític de la segona meitat del segle XX. I aquest menyspreu als Estats Units!

Es tracta del llibre sobre rock que volia llegir, el que sabia que havia d’existir. Després d’aquesta lectura sobre el tema, hauré de ser encara més primmirat alhora d’agafar-ne un altre que versi sobre el mateix.

M’he empassat, literalment, l’última entrevista que John Lennon va concedir a una ràdio, la BBC, dos dies abans que l’assassinessin. Un conyàs. M’ha aportat molt poc, per no dir res.
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Nota de 'editorial, University of Chicago Press:
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Synopsis

Tomorrow Never Knows takes us back to the primal scene of the 1960s and asks: what happened when young people got high and listened to rock as if it really mattered—as if it offered meaning and sustenance, not just escape and entertainment? What did young people hear in the music of Dylan, Hendrix, or the Beatles? Bromell's pursuit of these questions radically revises our understanding of rock, psychedelics, and their relation to the politics of the 60s, exploring the period's controversial legacy, and the reasons why being "experienced" has been an essential part of American youth culture to the present day.

Table of Contents

Acknowledgments
Introduction: "Living to Music"- Remembering Rock and Psychedelics in the '60s
1. "Something That Never Happened Before"- The Early Beatles and the Sense of an Ending
2. "Heartbreak Hotel"- At the Crossroads of White Loneliness and the Blues
3. "Something's Happening Here"- The Fusion of Rock and Psychedelics
4. "I Was Alone, I Took a Ride"- Revolver, Revolution, Technology
5. "Never Do See Any Other Way"- Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
6. "Evil" Is "Live" Spelled Backwards- The Radical Self in Highway 61 Revisited and The White Album
Afterword: "Our Incompleteness and Our Choices"- Forgetting the '60s and Remembering Them
Appendix 1. Music, Form, and Meaning
Appendix 2. The Form and Work of the Blues
Notes
Index

Bio

Nick Bromell is a professor of English and American literature at the University of Massachusetts, Amherst, as well as the author of By the Sweat of the Brow: Literature and Labor in Antebellum America, also published by the University of Chicago Press.
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L'editorial ofereix un extracte a la seva pàgina web: http://www.press.uchicago.edu/Misc/Chicago/075532.html
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viernes, 14 de noviembre de 2008

Diari (14 de novembre de 2008)

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“J’étais au premier étage du Flore en train de lire, sur le conseil de Skoreki, la correspondance de Jean Renoir, ...”
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Llegeixo aquesta frase al començament de l’entrada del 4 de maig de 2000 del Journal d’un oisif de Roland Jaccard i si no em venen ganes de vomitar, se m’escalfa la sang per un moment i deprés em tranquil·litzo. Entrar en una llibreria, o assegut a casa, que tant li fa, per a llegir la correspondència d’un altre. Encara que conec la importància d’aquest tipus de documents per a l’estudi d’alguns autors, em costa fer-me a la idea que llegir les cartes publicades de tercers no és una intromissió en la intimitat dels altres. Així és com es coneixen unes quantes coses que d’altra manera ignoraríem, entrant a la casa dels amics per la porta del darrera.
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Diari (20 de novembre de 2004)

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La capacitat d'oblit i els seus beneficis. És un pensament que em torna sovint. Filosòficament l'associo a Nietzsche, però en la vida diària és una refléxió pràctica personal que freqüento perquè se'm presenta sola i de cara. Relativitzar la gravetat de les nostres experiències té a veure amb l'oblit i la seva necessitat. I de rebot ajuda a no prendre's tan seriosament. (Això és, a no perdre's.)
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Llegit Chronicles, Volume One, el primer llibre de memòries de Bob Dylan. Sempre tan esquerp, en aquests textos aconsegueix una calidesa i proximitat sorprenents.
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Crida l'atenció la seva fidelitat a Woody Guthrie, tot i haver escoltat ja algun altre music de més qualitat. (Em va fer pensar en allò de Camus: "entre la meva mare i la veritat, em quedo amb la meva mare.")
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Susan Sontag, cuatro líneas


El mensaje de las pasiones del espíritu es pasión.

Respirar puede ser la más radical de las ocupaciones, cuando se concibe como una liberación de otras necesidades, como tener una carrera, formarse una reputación o acumular conocimiento.


Susan Sontag al final de "La mente como pasión", breve ensayo sobre Elias Canetti en Bajo el signo de Saturno.

Diari (11 d'agost de 2005)

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Vaig amb la Lena a l’altre col.legi, l’Escola Municipal de Educação Especial Maria Lúcia Luzzardi. De bon matí tothom em rep com el gran esperat. Petons, paraules, riures i cafè. Aquesta escola havia estat abans una casa suposo que de bona família. Per a un col.legi és petit, com a vivenda amb jardí és majestuosa. Ja a l’entrada començo a veure el tipus de “clients” del centre. Aquí s’hi executa un d’aquells treballs encara massa poc reconeguts socialment i econòmicament a tot arreu, però indispensables per a l’autoestima dels que ens volem anomenar humans, sense saber massa qué volem dir amb això. Aquí s’aposta per la intel.ligència de les persones amb disminucions psicofísiques, els autistes, els psicòtics. Es potencia la seva creativitat. Exemple d’això és que se’ls demana que dibuixin i pintin, no que es limitin a acolorir un dibuix ja fet i imprès. Pot semblar un petit detall, però en el micromón de les persones amb aquesta mena de necessitats especials, això implica una concepció de la seva psique diferent i més alta de la que els sectors més conservadors de l’especialitat els han atorgat fins ara. Vol dir que el llindar de la seva evolució i de la seva autonomia es fixa en un nivell més elevat, no per caprici d’unes quantes ànimes belles sinó per l’experiència d’anys d’alguns professionals.

Conec al Santiago, que de tots els alumnes és el primer que em dóna la benvinguda. Més tard veuré que és dels que enraona amb més fluidesa. La majoria no diuen res, d’altres se’ls deu poder començar a entendre quan has conviscut amb ells uns quants mesos. Poquíssims són els que emeten sons totalment intel.ligibles. El Diego vol saber el meu nom i me’l pregunta cada deu segons. Anem a buscar una pilota amb el dibuix del globus terraqui i li ensenyo on és el meu país, on visc. Fa uns ulls com unes taronges en observar la distància que separa els dos continents i després va repetint que sóc un home internacional. Vol viatjar fins a Barcelona, li agrada viatjar, amb la seva mare ha anat fins a Porto Alegre (trescents i escatx de quilómetres al nord) suportant bé tot el trajecte, cosa que significa un comportament correcte molt valorat. La Thaíssa, al pis de dalt, vol que faci petar els dits, m’ho indica fent-ho ella una i altra vegada. Després agafa i es posa a córrer per l’habitació. Torna. Ens presentem. Una professora m’hi ajuda. Els vaig saludant a tots. Aquest sembla un grup més complicat del que he saludat abans.

El Maico forma part d’aquest grup, és el més avançat. Té moltes pors, i pànic. L’ajudo a fer el seu treball, que consisteix en retallar cartolina i enganxar-la en un paper i així aconseguir la figura d’un arbre amb les seves branques i fulles. De tant en tant em posa la mà al pit, però malauradament veu que els meus pits són masculins. Més tard agafa la meva mà i se la posa als ulls, no vol veure, té por, té por de tot. Penso que el Maico pateix una estranya forma de lucidesa al.lucinada. Tenir por del món, de l’existència, d’un mateix, dels altres, ... Veient el que s’ha de veure, s’hauria de considerar una anomalia? I el Maico va repetint noms d’avions de guerra, noms que no sé si tenen el seu corresponent en els camps d’aviació d’algun exercit (probablement sí), però que inunden el seu cervell i li deixen poc espai per a pensar en res més.

A la tarda faig tres petons a la Daiane, que està molt contenta de conèixe’m. La part del seu cervell que correspon al llenguatge funciona molt correctament, xerra pels descosits i té molt sentit de l’humor. És la criatura més carinyosa de tota l’escola. Em diu “queridinho” i “bonitinho”, “o namorado da tia Lena”. Em presenta a tots els seus amics dient-los que em mostrin el seu amor i ella no para de demostrar-me el seu. També vol demostrar-me que sap parlar anglès i em diu “I love you” i segueix dient “druwouow” fent tombarelles amb la llengua per a ensenyar-me a mi i a tots els allí presents que parla en extranger. Després, quan jo no hi sigui, li dirà a la Lena que “ele é um conquistador”, vaja, que l’he conquistat.. Estem al jardí observant els arbres i dibuixant. La Daiane s’entesta a dir que el seu dibuix l’he fet jo i que és molt bonic. És una joia. La recompensa afectiva que els professors d’una escola d’aquest tipus obtenen dels seus alumnes és molt i molt baixa. Disposar d’una alumna afrobrasilera com la Daiane pot omplir i compensar l’esforç de moltes jornades esgotadores de treball. La Daiane estava molt contenta perquè li havien parlat de mi i sabia que aviat em coneixeria, però en la seva vida de cada dia no deixa de ser tan carinyosa com es va mostrar amb mi. Camina una mica coixa i xerra, xerra i no para de xerrar. Anima una casa que necessita, i en part viu, de l’alegria.
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I quan no he estat amb els nanos, he aprofitat per llegir L’Alienista, el conte que Machado de Assis va escriure fa més de cent anys, i m’he preguntat quanta gent que considerem sana no hauria d’estar curant-se en llocs com els de l’Escola Especial Maria Lúcia Luzzardi i quants bojos que hem considerat alienats no ens podrien ajudar, en llibertat, a construir una societat més equilibrada.
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Diari (9 d'agost de 2005)

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Ens hem llevat a les sis del matí per anar a l’Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Maria Angélica Villanova Leal Campello, on la Lena dóna classe de plàstica per a tots els cursos del centre. Hi arribem cap a les vuit després d’agafar dos ônibus, el segon dels quals va ple de professors i, a mesura que ens hi anem apropant, es va omplint també d’alumnes. L’escola es troba al costat mateix de la carretera. Hi ha uns dipòsits d’arròs, davant mateix d’on sec ara al petit menjador, propietat d’una empresa que pel que sembla no fa gaire soroll. L’escola és petita, tot just tres casetes allargades i un contenidor que serveix de biblioteca. S’hi respira un ambient familiar. Aquí tothom es coneix.

Comencem esmorzant amb els professors, que s’han portat el menjar de casa. El cafè el posen les cuineres, que treballen en una cuina com les de casa de tota la vida. En qualsevol cas, res a veure amb les cuines industrials de les escoles grans de Barcelona. És evident, també, que això és una escola rural. Ara estan preparant l’esmorzar de les crianças. Al costat de la cuina hi ha la secretaria, que també serveix de sala de professors, petita i de mobles antics, no hi deuen cabre tots junts. Em fixo en una fotografia enganxada en un armari. És del conegut pedagog brasiler Paolo Freire. A sota hi ha una frase seva que resa: “O mundo não é. O mundo está sendo.” Just al meu costat, en el suro penjat a la paret, el següent:

O amor, em todas as
suas formas, é a força
poderosa e duradoura
que dá sentido real a
todas as vidas.


I encara,

O respeito mútuo, um
respeito sem fingimentos
e sem rotinas, um respeito
bem intencionado, que todos
os dias se ilumina de
argumentos novos e todos
os dias se sente pequeno
diante de sua aspiração,
podrá servir de base,
dentro da obra educacional,
a um movimento de
resultados eficientes,
no problema urgentíssimo
da salvação do mundo pela
garantia unânime de paz.


Cecília Meireles

A l’altra banda de la paret també hi veig penjada una fotografia de la fundadora de l’escola.

Conec el Leandro, el professor de castellà (és a dir, d’Espanhol) i parlem una estona. Més tard em ve a buscar i em diu que ha explicat als seus alumnes que avui a l’escola hi ha visita i que si vull anar-los a conèixer. Són els de cinquè, nanos d’onze anys. Alguns em tenen preparada una pregunta. Com em dic, on visc. Quan els dic que també em passo de dilluns a divendres en una escola, volen saber si m’hi diverteixo, i els contesto que uns dies més que altres. A ells els agrada venir aquí, això és el que diuen i em semblen sincers. La conversa deriva cap al Ronaldinho gaúcho i el Barça. Els faig dir a tots el seu nom i m’acomiado fins després.

Després me’ls trobo a l’aula de la Lena on estan treballant “la casa dels meus somnis”. Utilitzen eines de dibuix tècnic. La Lena és l’única professora del municipi (Rio Grande) que disposa d’una aula d’art per a ella sola. El seu treball és molt reconegut, m’explica orgullosa. Més tard sabré que, en efecte, la seva feina és punt de referència a la facultat i que hi ha una persona interessada en escriure una tesi doctoral sobre el programa educatiu que van crear i desenvolupar la Lena i la Magali (amb la qual la Lena treballava abans a Taim i ara ho segueix fent a l’escola d’educació especial a la ciutat de Rio Grande).

Els alumnes tracten els professors de “professor, professora” o “senhor, senhora”.

A l’hora del pati conec el Francisco Javier Fernández García, el d’educació física. Un gallec de Vigo que no ha estat mai a Vigo: va arribar al Brasil amb la família quan tenia quatre anys. El seu pare era pescador i, segons em diu, li van fer remolcar un vaixell des d’Holanda fins aquí, i aquí es va quedar, suposo que cansat i fins a les orelles de tanta aigua.

Esmorzen els nanos i si volen, i poden, compren llaminadures i cocacola en ampolles d’aquelles una mica més grans, de les que a Barcelona o ja no en queden o són molt difícils de trobar. 290 ml.. Jo diria que nosaltres ja no en tenim d’aquestes. La darrera vegada que en vaig veure va ser a l’Europa de l’est. És llàstima perquè, entre l’ampolla petita i la llauna, és la mesura perfecte.

Comença la tercera hora.

Com dirien els anglosaxons, aprenc que en aquesta escola, com en d’altres, existeixen dos torns, un al matí i un altre a la tarda. Significa que només fan quatre hores de classe al dia. La raó és purament i simplement econòmica: l’Estat no podria suportar la despesa que suposaria l’horari que a casa nostra es considera normal. A la Villanova Campello hi van nens, nenes, nois i noies de famílies pobres, molts dels quals treballen quan no són a l’escola; amb prou feines han visitat la seva comarca i alguns, malgrat viure al costat del mar, desconeixen el plaer d’un bany a la platja.
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Diari (10 de maig de 2005)

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Una mica de sort és importantíssima. Si els altres acompanyen, si la realitat pot fer-te costat en moments crítics, i no em refereixo als moments suposadament transcendentals de la teva vida, sinó als moments de la vida quotidiana, d’avui, de demà, si això passa, i és un atzar, l’existència es fa molt més agradable que si vas arrossegant males conjuntures dia sí dia també. Una mica de sort és importantíssima, i no cal que t’atorgui tot allò que tu voldries en un cent per cent. N’hi ha prou que et piqui l’ullet, el just per a recollir algun fruit inesperat i saborós.
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Diari (17 d'abril de 2005)

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Ahir vam anar al Lliure de Montjuïch a veure L’home de teatre, de Thomas Bernhard, la Neus, el Joan, l’Edith i jo. Protagonitzada pel Lluís Homar i dirigida pel Xavier Albertí, que la temporada passada ja va versionar per a l’escena la novel.la Mestres antics. L’home de teatre és pràcticament un monòleg que fa el personatge anomenat Bruscón, actor nacional i posseïdor d’un ego immens. Al llarg de l’obra s’arriba a comparar amb Shakespeare i Goethe. Però durant tota la funcio, Homar-Bruscón fa una reflexió molt dura i molt caustica –com ja és natural en Bernhard- sobre la professió d’actor i sobre el teatre i el seu microcosmos. De la qual cosa se serveix per a passar a criticar la societat del seu temps i del seu país, Austria als anys 80.

En aquesta obra també es fa molt explícita la missogínia de l’autor. De fet, no hi ha cap text de Bernhard que no contingui un alt grau d’autobiografia, tant pel que fa a vivències com a pensaments. La malaltia pulmonar és un exemple del primer cas, la missogínia, malauradament, n’és un de l’altre. Però gairebé sempre que Bruscón s’endinsa en un atac ferotge contra la condició femenina, després ho lliga amb una reflexió de més pes i més amplada. Així el text de mà que vam prendre:
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Si som sincers
el teatre en sí és un absurd
però si som sincers
no podem fer teatre
no podem si som sincers
ni escriure una peça teatral
ni interpretar una peça teatral
si som sincers
ja no podem fer absolutament res
com no sigui matar-nos
però com que no ens matem
perquè no volem matar-nos
al menys fins avui i fins ara no
com que per tant fins avui i fins ara no ens hem matat
ho seguim intentant amb el teatre
escrivim per al teatre
i fem teatre
encara que tot plegat sigui la cosa més absurda
i més enganyosa.


Aquest fragment el diu Bruscón en la primera part de l’obra, que segons el meu parer és més interessant que la segona meitat.

Un pare de familia s’emporta de gira tota la seva familia d’actors per a representar La roda del temps. Passegen tota Austria i a tot arreu on representen l’obra Bruscón demana que al final de la funció s’apaguin tots els llums, fins i tot els d’emergència. Això li va costar a Bernhard més d’un disgust quan se li denegava aquest requeriment, perquè desitjava que al final de L’home de teatre es fes la foscor total.

Poques obres van tan lligades a la vida del creador com en el cas de Thomas Bernhard.

Vam sortir del Lliure molt excitats i amb ganes de fer comentaris sobre el que acabàvem de veure, que, entre altres coses, es tractava d’una lliçó magistral per part del gran Lluís Homar. I el ritme musical del frasseig de Bernhard i la seva tossuda voluntat de provocar la irritació en l’espectador. La incongruència de condemnar el règim nazi (“allà on abans hi havia un home ara hi ha un nazi”) amb el carácter hostil i dictatorial del pare, actor i director teatral Bruscón. Les incoherències sucoses de l’autor.

En la carrera de Lluís Homar, aquesta peça ve a ser una segona part de l’espectacle que va muntar ara deu fer un parell o tres de temporades, Et diré sempre la veritat, on reflexionava sobre el seu propi itinerari com a professional de l’escena, la història i la idiosincràsia del Teatre Lliure de Gràcia, el mateix fet teatral, l’actor i l’espectador. Aleshores citava George Steiner i el seu concepte de “cortesia”, l’atenció i la confiança que en un primer moment l’espectador ha de mostrar cap a l’actor i el creador, per a poder després, en un segon moment, criticar-lo millor, si no recordo malament…
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lunes, 10 de noviembre de 2008

Sancho habla de la Muerte

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—A buena fe, señor —respondió Sancho—, que no hay que fiar en la descarnada, digo, en la muerte, la cual tan bien come cordero como carnero [64]; y a nuestro cura he oído decir que con igual pie pisaba las altas torres de los reyes como las humildes chozas de los pobres [65]. Tiene esta señora más de poder que de melindre; no es nada asquerosa: de todo come y a todo hace [66], y de toda suerte de gentes, edades y preeminencias hinche sus alforjas. No es segador que duerme las siestas, que a todas horas siega, y corta así la seca como la verde yerba; y no parece que masca, sino que engulle y traga cuanto se le pone delante, porque tiene hambre canina, que nunca se harta; y aunque no tiene barriga, da a entender que está hidrópica y sedienta de beber solas las vidas [67] de cuantos viven, como quien se bebe un jarro de agua fría.

—No más, Sancho —dijo a este punto don Quijote—. Tente en buenas, y no te dejes caer [68], que en verdad que lo que has dicho de la muerte por tus rústicos términos es lo que pudiera decir un buen predicador. Dígote, Sancho, que si como tienes buen natural y discreción [69], pudieras tomar un púlpito en la mano y irte por ese mundo predicando lindezas.

—Bien predica quien bien vive —respondió Sancho—, y yo no sé otras tologías [70].

—Ni las has menester —dijo don Quijote—. Pero yo no acabo de entender ni alcanzar cómo siendo el principio de la sabiduría el temor de Dios [71], tú, que temes más a un lagarto que a Él [72], sabes tanto.

—Juzgue vuesa merced, señor, de sus caballerías —respondió Sancho—, y no se meta en juzgar de los temores o valentías ajenas, que tan gentil temeroso soy yo de Dios como cada hijo de vecino. Y déjeme vuestra merced despabilar esta espuma [73], que lo demás todas son palabras ociosas, de que nos han de pedir cuenta en la otra vida [74].

Y diciendo esto comenzó de nuevo a dar asalto a su caldero, con tan buenos alientos, que despertó los de don Quijote, y sin duda le ayudara, si no lo impidiera lo que es fuerza se diga adelante.
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[64] ‘tanto mata a los jóvenes como a los viejos’; otra forma del refrán en II, 7, 680, n. 23.
[65] Nueva alusión al Pallida mors horaciano, muy grato a C. (I, Pról., 14, n. 57).
[66] ‘a todo se acomoda’; no es nada asquerosa: ‘no le hace ascos a nada’.
[67] ‘únicamente las vidas’.
[68] ‘Anímate y no te dejes vencer’.
[69] natural: ‘disposición natural’.
[70] ‘teologías’, ‘sutilezas’; es vulgarismo.
[71] Sentencia que aparece repetidamente en la Biblia (II, 42, 970, n. 17).
[72] El lagarto es figura alegórica de la cobardía.
[73] despabilar: ‘acabar rápidamente’.
[74] La frase procede del Evangelio de San Mateo, y se ha hecho proverbial.
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Miguel de Cervantes, Don Quijote de la Mancha, segunda parte, capítulo XX, Donde se cuentan las bodas de Camacho el rico, con el suceso de Basilio el pobre.
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Edición de Don Quijote en internet, dirigida por Francisco Rico: http://cvc.cervantes.es/obref/quijote/edicion/default.htm
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Los nadies (Eduardo Galeano)

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...Sueñan las pulgas con comprarse un perro y sueñan los nadies con salir de pobres, que algún mágico día llueva de pronto la buena suerte, que llueva a cántaros la buena suerte; pero la buena suerte no llueve ayer, ni hoy, ni mañana, ni nunca, ni en lloviznita cae del cielo la buena suerte, por mucho que los nadies la llamen y aunque les pique la mano izquierda, o se levanten con el pié derecho, o empiecen el año cambiando de escoba.
...Los nadies: los hijos de nadie, los dueños de nada.
...Los nadies: los ningunos, los ninguneados, corriendo
la liebre, muriendo la vida, jodidos, rejodidos:
...Que no son, aunque sean.
...Que no hablan idiomas, sino dialectos.
...Que no profesan religiones, sino supersticiones.
...Que no hacen arte, sino artesanía.
...Que no practican cultura, sino folklore.
...Que no son seres humanos, sino recursos humanos.
...Que no tienen cara, sino brazos.
...Que no tienen nombre, sino número.
...Que no figuran en la historia universal, sino en la cró-
nica roja de la prensa local.
...Los nadies, que cuestan menos que la bala que los
mata.
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miércoles, 5 de noviembre de 2008

Amnesia in Litteris (Patrick Süskind)


Aquest estiu europeu, hivern llatinoamericà, uns amics em van fer arribar un número del dominical de El País on es parlava de les preferències literàries de cent escriptors espanyols en els següents termes: "Quin és el llibre que ha canviat la seva vida?" Hi havia respostes per a tots els gustos amb un clar número 1: Don Quijote de la Mancha. No obstant, a mi em sembla que la millor resposta a aquesta pregunta, un poc o un molt "peregrina", la va donar l'escriptor alemany Patrick Süskind (l'autor de El Perfum) en un text del 1987 sota el títol d'Amnesia in Litteris. Vaig llegir la peça en el seu temps, també publicada pel dominical del mateix diari, i l'he tornat a llegir en un volumet en francès, comprat a la fira del llibre de Porto Alegre, que reuneix tres textos més. He trobat l'Amnesia a la xarxa en castellà i la reprodueixo aquí per al vostre, i meu, gust i plaer.


¿Cómo era la pregunta? ¡Ah!, sí: qué libro me había impresionado, marcado, señalado, sacudido o incluso conducido en una dirección o apartado de ella. Pero eso suena a vivencia perturbadora o a experiencia traumática, y el afectado revive eso a lo sumo en las pesadillas, pero no cuando está despierto y menos por escrito y públicamente, como apuntó ya, según creo, un psicólogo austriaco, cuyo nombre he olvidado en este momento, en un ensayo muy digno de ser leído, cuyo título no recuerdo ya exactamente, pero que apareció en un pequeño volumen bajo el título antológico Yo y tú, o El, ello y nosotros, o Yo individual, o algo parecido (no sabría decir si ha sido reeditado recientemente por Rowohlt, Fischer, DTV o Suhrkamp, pero sí que las tapas eran verdes y blancas, o azules y amarillentas, si no eran de un gris azulado verdoso).

Ahora bien, la pregunta no se refiere quizá a las experiencias lectoras neurotraumáticas, sino a aquella vivencia artística exaltadora que encuentra en el famoso poema Hermoso Apolo... no, creo que no era Hermoso Apolo, el título era distinto, tenía algo arcaico, Torso joven o Hermoso Apolo primigenio o algo parecido, pero eso no hace al caso... o sea, encuentra en ese famoso poema de... de... , no recuerdo ahora mismo su nombre, pero era de verdad un poeta muy célebre, con ojos de carnero y un gran bigote, y compró a ese escultor gordo francés ¿cómo se llamaba? una casa en la Rue de Varenne (lo de casa es un decir, más bien es un palacio con un parque que no se atraviesa en 10 minutos) (uno se pregunta, dicho sea de paso, cómo se las arreglaba la gente entonces para pagar todas esas cosas) , encuentra, en todo caso, su expresión en ese magnífico poema que yo no podría citar ya entero, pero cuya última línea permanece grabada en mi memoria de manera indeleble como imperativo moral permanente y que dice: "Tienes que cambiar tu vida".

¿Cuáles son, pues, aquellos libros de los que podría decir que su lectura haya cambiado mi vida?

Para esclarecer este problema me acerco (fue hace unos días) a mi estantería de libros y recorro los lomos con la mirada. Como suele sucederme siempre en estos casos, es decir, cuando hay demasiados ejemplares de una especie reunidos en un lugar y el ojo se pierde en la masa, siento vértigo al principio, y para superarlo meto la mano en la masa al azar, extraigo un pequeño volumen, me aparto con él como si llevase una presa, lo abro, lo hojeo y quedo enfrascado en su lectura. Pronto me doy cuenta de que he hecho una buena colección, muy buena incluso. Es un texto de prosa pulida y del más claro razonamiento, cuajado de datos interesantísimos y originales, y lleno de las sorpresas más maravillosas; lástima que no recuerde en el momento en que escribo esto el título del libro, el nombre del autor o el contenido, pero eso, como se verá en seguida, no importa, o más bien contribuye, por el contrario, a esclarecer el asunto. Es, como he dicho, un libro extraordinario el que tengo en mis manos, cada frase es un hallazgo, y leyendo me dirijo dando traspiés a mi silla, me siento leyendo, olvido leyendo por qué estoy leyendo, busco ansiosamente las cosas exquisitas y nuevas que descubro página tras página. Subrayados ocasionales en el texto o signos de exclamación garabateados con lápiz al margen huellas de un lector anterior que por lo demás no suelo apreciar precisamente en los libros no me molestan en este caso, pues el relato discurre con tanto interés, la prosa se desgrana con tanta viveza que no registro ya las huellas del lápiz, y cuando lo hago si lo hago alguna vez , sólo en sentido aprobatorio, pues es evidente que mi predecesor ignoro por completo quién pueda ser es evidente, digo, que puso sus subrayados y exclamaciones justo en los pasajes que también me entusiasman a mí. Y así sigo leyendo, doblemente estimulado por la extraordinaria calidad del texto y la complicidad espiritual de mi desconocido predecesor, me sumerjo cada vez más profundamente en el mundo de ficción, sigo con creciente asombro las maravillosas sendas por las que me conduce el autor.

Hasta que llego a un pasaje en el que el relato alcanza, sin duda, su máximo esplendor y que me arranca un ¡ah! en voz alta, "¡ah, qué bien pensado!, ¡qué bien dicho!". Y cierro por un momento los ojos para reflexionar sobre lo leído, que ha abierto una brecha en el marasmo de mi mente, que me ofrece perspectivas completamente nuevas, que emana nuevos conocimientos y asociaciones, que me clava aquel aguijón que decía: "Tienes que cambiar tu vida". Y, de manera casi automática, mi mano coge el lápiz, y pienso: "Tienes que subrayar eso", escribirás un "muy bien" al margen y trazarás un grueso signo de admiración detrás y anotarás con unas palabras el torrente de ideas que han desencadenado dentro de ti esas líneas, como ayuda para tu memoria y homenaje documentado al autor que te ha iluminado tan grandiosamente.

Pero, ¡ay! Cuando poso el lápiz sobre la página para garabatear mi "¡muy bien!", figura allí ya un "muy bien", y el breve resumen que quiero apuntar ya ha sido escrito también por mi predecesor, y lo ha hecho con una letra que me es muy familiar, la mía propia, pues el predecesor no es otro que yo mismo. Yo había leído el libro hace tiempo.

Entonces me invade una terrible desesperación. La vieja enfermedad ha vuelto a atraparme: amnesia in litteris, la pérdida total de la memoria literaria. Y una ola de resignación ante la inutilidad de todo afán de conocimiento, de todo afán, en general, se abate sobre mí. ¿Para qué leer, para qué volver a leer ese libro si sé que dentro de muy poco tiempo no quedará siquiera la sombra de su recuerdo? ¿Para qué hacer algo si todo se deshace en la nada? ¿Para qué vivir si de todos modos hay que morir? Y cierro el bonito libro, me levanto y camino despacio como un derrotado, como un apaleado, a la estantería y lo hundo en la fila de volúmenes que están allí anónimos, en masa y olvidados.

Al final de la estantería se detiene la mirada.

¿Qué hay allí? ¡Ah!, sí: tres biografías de Alejandro Magno. Las leí todas hace tiempo: ¿Qué sé de Alejandro Magno? Al final del siguiente estante hay varios tomos sobre la guerra de los Treinta Años, entre ellos 500 páginas de Verónica Wengwood y 1.000 páginas de Golo Mann sobre Wallenstein. Todo eso lo leí ordenadamente. ¿Qué sé de la guerra de los Treinta Años? Nada. La balda de debajo está repleta de libros sobre Luis II de Baviera y su tiempo. Estos libros no sólo los leí, sino que los estudié a fondo durante más de un año, y a continuación escribí tres guiones, era casi un especialista de Luis II. ¿Qué sé ahora de Luis II y su tiempo? Nada. Absolutamente nada. Pienso que quizás en el caso de Luis II la amnesia total no sea tan grave. Pero ¿qué sucede con los libros que hay allí junto a la mesa, en la sección literaria más selecta?

¿Qué ha quedado en mi memoria de los 15 tomos de Andsersch? Nada. ¿Qué ha quedado de Böll, Walser y Koeppen? Nada. ¿Y de los 10 tomos de Hanke? Menos que nada. ¿Qué sé todavía de Tristam Shandy, de las Confesiones de Rousseau, del paseo de Seume? Nada, nada, nada. Pero ahí veo las comedias de Shakespeare. Acabo de leerlo todo el año pasado. Tiene que haber quedado algo, una idea vaga, un título, un solo título de una sola comedia de Shakespeare. Nada. Pero, ¡por todos los santos!, al menos Goethe, Goethe allí arriba, en la fila superior, 45 volúmenes de Goethe, ahí por ejemplo, ese librito blanco. Las afinidades electivas, las he leído tres veces por lo menos..., y no queda ni rastro. Pero ¿es que no hay en el mundo ningún libro que yo recuerde? Aquellos dos tomos rojos, los gruesos con los rótulos de tela rojos, seguro que los conozco, me resultan familiares como muebles viejos, los he leído, he vivido en esos volúmenes durante semanas hace no demasiado tiempo. ¿Qué libro es ése? ¿Cómo se llama? Los endemoniados. Ya, ya veo. Interesante. ¿Y el autor? F.M. Dostoievski. Hummmmm. En fin. Me parece que me acuerdo lejanamente: la historia tiene lugar, creo, en el siglo XIX, y en el segundo tomo alguien se mata con una pistola. No sabría decir nada más.

Me dejo caer sobre la silla de mi escritorio. Es una vergüenza, es un escándalo. Sé leer desde hace 30 años, he leído, no mucho, pero sí algo, y todo lo que me queda es el recuerdo muy aproximado de que en el segundo tomo de una novela de 1.000 páginas alguien se pega un tiro. ¡He leído 30 años en balde! Miles de horas de mi niñez, de mis años de joven y de adulto dedicadas a la lectura y no he retenido más que un gran olvido. Y este mal no mejora; al contrario, se agrava. Ahora cuando leo un libro, olvido el principio antes de llegar al final. A veces la fuerza de mi memoria no basta siquiera para retener la lectura de una página. Y así me voy descolgando de un párrafo a otro, de una frase a otra, y pronto sólo podré captar con mi mente las palabras sueltas que vuelven hacia mí desde la oscuridad de un texto siempre desconocido, reluciendo como estrellas fugaces durante el momento en que las leo para desaparecer seguidamente en el tenebroso Leteo del olvido total. En las discusiones literarias hace tiempo que no puedo abrir la boca sin caer en el más espantoso ridículo, confundo a Morike con Hofmannsthal, a Rilke con Hölderlin, a Beckett con Joyce, a Italo Calvino con Italo Svevo, a Baudelaire con Chopin, a George Sand con Madame de Staël, etcétera. Cuando busco una cita, que recuerdo de manera imprecisa, paso días consultando por qué he olvidado el autor y por qué durante la búsqueda en textos desconocidos de autores extraños me pierdo hasta que por fin olvido lo que buscaba al principio. ¿Qué podría contestar en este estado mental caótico a la pregunta de qué libro ha cambiado mi vida? ¿Ninguno? ¿Todos? ¿Algunos? No lo sé.

Pero quizá pienso así para consolarme , quizá en la lectura (como en la vida) lo de las desviaciones de las trayectorias y los cambios abruptos no es para tanto. Tal vez la lectura es más bien un acto impregnativo que empapa la mente profundamente, pero de una manera tan imperceptiblemente osmótica que aquélla no se da cuenta del proceso. El lector que padece de amnesia in litteris cambia, naturalmente, de lectura, pero no lo nota porque al leer cambian también las instancias críticas de su cerebro que podrían decirle que está cambiando. Y, para alguien que escribe, esta enfermedad sería quizás una bendición, incluso la condición necesaria, pues la preservaría del respeto paralizante que infunde toda gran obra literaria y le proporcionaría una relación sin complicaciones con el plagio, sin la cual no puede surgir nada original.

Ya sé que es un consuelo indigno y pobre nacido de la necesidad, y trato de desecharlo: no debes abandonarte a esa terrible amnesia, pienso, debes oponerte con todas tus fuerzas a la corriente del Leteo, no debes sumergirte precipitadamente en un texto, sino permanecer por encima distanciado con una conciencia clara y crítica, tienes que extractar, memorizar, tienes que entrenar la memoria; en una palabra, tienes que y cito la frase de un famoso poema cuyo autor y título he olvidado en este momento, pero cuya última línea está grabada de manera indeleble en mi memoria como un imperativo moral permanente : "Tienes", dice, "tienes que... que... tienes que..."

¡Qué lata! Ahora he olvidado las palabras exactas. Pero no importa, todavía tengo perfectamente presente el sentido. Era algo así como: "¡Tienes que cambiar tu vida!".

Un escritor escribe un libro sobre un escritor que escribe dos libros sobre dos escritores, de los cuales uno escribe porque ama la libertad, el otro porque le es indiferente. Esos dos escritores escriben en total 22 libros que tratan de 22 escritores, de los cuales algunos mienten, pero no lo saben, mientras que otros mienten a sabiendas, otros buscan la verdad, pero saben que no pueden encontrarla, mientras que otros ya creían haberla encontrado.