martes, 3 de julio de 2007

Os livros E Os Dias (Alberto Manguel)


Cassino (Brasil, RS), 3 de juliol de 2007

Alberto Manguel dedica bona part de la seva producció escrita a reflexionar sobre la lectura, el fet de llegir al llarg de la història, el món dels llibres i tot el ritual que emprèn qualsevol lector compulsiu, a més de ser autor d’històries de ficció i col·laborador habitual d’un bon nombre de publicacions arreu del món.

Alberto Manguel és un fenomenòleg de la lectura.

La lectura dels llibres de Manguel du sempre a formular-se la següent pregunta: «Quin tipus de lector sóc?», «com llegeixo?»

A les pàgines introductòries de Os livros e os dias (he esperat a llegir la versió brasilera del llibre, perquè l’espanyola d’Alianza, al meu parer, no prestigiava gens aquest diari de lectures) Alberto Manguel es descriu com un lector eclèctic. Això, assegura, el permetrà completar un any de lectures diverses sense haver de fer cap esforç.

Dos paràgrafs més amunt:

«A leitura é uma conversa. Os lunáticos respondem a diálogos imaginários que ouvem ecoar em algum lugar de suas mentes; os leitores respondem a um diálogo similar provocado silenciosamente por palavras escritas numa página. Em geral a resposta do leitor não é registrada, mas em muitos momentos ele sentirá a necessidade de pegar um lápis e escrever as respostas nas margens de um texto. Esse comentário, essa glosa, essa sombra que às vezes acompanha nossos livros favoritos, estende e transporta o texto para o interior de um outro tempo e de uma outra experiência; empresta realidade à ilusão de que um livro fala a nós (seus leitores) e nos faz viver.» (10)
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Per a Descartes la lectura és una conversa amb els homes més il·lustres dels segles passats. (Una conversa amb els morts.)

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«Mas por que manter um diário? (Es pregunta el protagonista de La Invención de Morel de Bioy Casares): “Dar perpétua realidade a minha fantasia sentimental.”» (19)

«Nota: ler às vezes consiste em fazer conexões, em reunir antologias.» (38)

«Olhando retrospectivamente para minhas leituras de adolescente, a pergunta essencial, a mais assustadora de que me lembro, é feita “numa voz lânguida e sonolenta” pela lagarta que fuma narguilé em Alice no País das Maravilhas: “Quem é Você?”. A forma ativa dessa pergunta aparece lá pela metade de Kim: “O que sou eu?”. E então, alguns capítulos adiante: “Quem é Kim-Kim-Kim?”.» (59)

«O Ocidente reconhece o Outro apenas para desprezá-lo melhor, e depois fica atônito com a resposta que recebe.» (69)

«Nosso deus é o deus dos contos de fadas, aquele que propôs testes a seus três filhos, cada qual acreditando ser o mais amado, embora nenhum seja verdadeiramente “o escolhido”.» (72)

«Para Chateaubriand, o mundo que vemos é lembrança: de coisas fugidas, efêmeras, idas, e no entanto relutantes em nos abandonar inteiramente. [...]

» Para nós, é o presente que é constante; recusamo-nos a deixá-lo ir embora. Os telejornais pressupõem um publico infectado pelo esquecimento, incapaz de recordar o que ocorreu momentos antes; um público que precisa do fantasma constante do “evento”. Seria essa nossa tentativa de eliminar a mortalidade? Breves instantâneos, repetição, uma sensação de instantaneidade; nos é oferecido algo como um momento sem fim que não nos permite distância alguma no tempo ou no espaço.

» Outra definição de Inferno: o eterno restabelecimento de uma ação expurgada de qualquer possibilidade de expirar.

» Chateaubriand: “Uma coisa me humilha: a memória é muitas vezes uma qualidade associada à insensatez; habitualmente ela pertenece a almas obtusas, as quais torna ainda mais obtusas por causa da bagagem que despeja sobre elas. Contudo, o que seria de mós sem memória? Esqueceríamos nossas amizades, nossos amores, nossos prazeres, nossos negócios; o gênio seria incapaz de reunir seus pensamentos; o mais afetuoso dos coraçoes perderia sua ternura se não lembrasse; nossa existência seria reduzida aos momentos sucessivos de um presente que não pára de fluir. Não haveria passado algum”.

» A última palavra nas Memórias é “eternidade”.» (73-74)

«[...] uma frase de Stevenson em Kidnaped: “Tenho uma memória formidável para o esquecimento...”.» (75) I quan l’he llegida, he pensat que la frase em va com l’anell al dit.. Moltes vegades només recordo d’una pel·lícula, d’un llibre, si m’ha agradat o no, i res més, encara que l’obra hagi representat molt per mi. Exemple: La Doble Vida de Verónica.

«Chateaubriand sobre a escrita de diários e a necessidade de colocar no papel imediatamente as nossas impressões: “Nossa existência é tão fugaz que, se não rememorarmos à noite os acontecimentos da manhã, o trabalho nos pesará sobre os ombros e não teremos mais tempo de mantê-lo em dia. Isso não nos impede de dissipar nossos anos, de jogar ao vento aquelas horas que são, para nós, as sementes da eternidade”.» (77)


«No final, diz Chateaubriand, nada acaba. “Minha fidelidade à memória de meus amigos mortos deveria emprestar confiança àqueles amigos que ainda me restam: nada para mim afunda na sombra; tudo o que uma vez eu conheci vive à minha volta. De acordo com a doutrina indiana, a morte, quando nos toca, não nos destrói; ela simplesmente nos torna invisíveis.”

» Cocteau, em seu diário: “A invisibilidade me parece a condição da elegância”.» (81)

«A exemplo da fórmula matemática concebida para explicar as emoções, é um método para não reconhecer a humanidade dos necessitados.» (117)

« A palavra “nostalgia” foi inventada em 22 de junho de 1688 por Johannes Hofer, um estudante de medicina alsaciano, mediante a combinação da palavra nostos (“retorno”) com a palavra algos (“dor”) em sua tese de medicina, Dissertatio medica de nostalgia, para descrever a enfermidade dos soldados suíços mantidos longe de suas montanhas.» (129)

«Sarduy estava ciente de que o exílio o tornara nostálgico de um país que não existia mais, e que talvez nunca tivesse existido, pelo menos do modo como ele o relembrava [...]. Ele acreditava que mesmo os lugares onde vivemos são transformados por nossos preconceitos, pelos caprichos, pela experiência limitada, pelo fato de caminharmos por um caminho e não por outro da nossa casa até a padaria, ou por termos escolhido um café, um parque e um armazém em meio à variedade de locais que formam uma cidade. Nesse sentido, todo lugar é imáginário.» (131-132)

«Para Juan José Saer, Dom Quixote é um heroi épico porque não está interessado em saber se sua missão de justiça terá êxito ou fracassará. “Esse é o ponto essencial a ser lembrado”, diz Saer; “que a consciência clara ou confusa da inevitabilidade do fracasso em toda empresa humana é algo fundamentalmente oposto ao épico moral.” Comparemos isso com a observação de Stevenson: “Nossa missão na vida não é ter sucesso, mas continuar a fracassar com a melhor das intenções”.» (143)

«A fé não deve estar sujeita às provas da razão. A fé não combate a razão; ela simplesmente se afirma criando um lugar vazio para si própria. É nesse vazio, acreditam os místicos, que Deus pode entrar.» (154)

«”O olho com que vejo Deus é o mesmo olho com que Deus me vê”, observou Meister Eckhart.» (163)

«”Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.” Para Machado de Assis, nós somos, como os livros para insones que lemos, cheios de parágrafos que necessitam de revisão.» (201)

«Na literatura barroca, uma coisa só é verdadeira quando significa algo mais.» (203)

«Para Brás Cubas não ha sono algum na morte, apenas uma espécie de insônia literária. A morte é para ele um ponto de partida, o momento em que podemos contemplar a vida de modo conclusivo, pois não haverá mais novidades. Trata-se, entre outras coisas, de um momento mori encarnado.» (204)

«Chesterton: “A pessoa que está realmente revoltada é o otimista, que em geral vive e morre num esforço desesperado e suicida de convencer todas as outras pessoas de quano elas são boas [...] Todos os grandes revolucionários, de Isaías a Shelley, forma otimistas. Eles se indignaram, não com a ruindade da existência, mas com a lentidão dos homens em perceber sua excelência”.» (211)
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Alberto Manguel, Os Livros E Os Dias (Um ano de leituras prazerosas), tradução de José Geraldo Couto, Companhia das Letras, São Paulo, 2005

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