Na arte como nas relações humanas, que incluem os diversos laços amorosos, nadamos contra a correnteza. Tentamos o impossível: a fusão total não existe, o partilhamento completo é inexeqüível. O essencial nem pode ser compartilhado: é descoberta e susto, glória ou danação de cada um –solitariamente. (15-16)
Pois viver deveria ser –até o último pensamento e o derradeiro olhar- transformar-se. (16)
Somos autores de boa parte de nossas escolhas e omissões, audácia ou acomodação, nossa esperança e fraternidade ou nossa desconfiança. Sobretudo, devemos resolver como empregamos e saboreamos nosso tempo, que é afinal sempre o tempo presente. (16)
Nisso reside nossa possível tragédia: o desperdício de uma vida com seus talentos truncados se não conseguimos ver ou não tivermos audácia para mudar para melhor –em qualquer momento, e em qualquer idade. (22)
(...) A utopia será o terreno da nossa liberdade. Ou acabaremos como focas treinadas cumprindo corretamente nossas tarefas, mas soterrando aquilo que chamamos psique, eu, self, ou simplesmente alma. (24)
Compreendi que a aparente indiferença dos outros com minhas imaginações infantis não era porque estivessem desinteressados ou eu não soubesse explicar direito. Era porque o pensado e o real não se distinguem nem cabem em palavras, e isso não se comunica. (25)
Uma arena de combates destrutivos me prepara tão mal para ser uma pessoa inteira quanto o sossego artificial dos problemas ignorados. (29)
Não podemos alterar o passado. Dramas familiares podem ser raízes venenosas por baixo da terra do convívio ou da alma. A lei do silêncio, do segredo obsessivo, pode constituir grave perturbação. Mas podemos mudar nossa postura em relação a todo isso, ainda que em longos e dolorosos processos, que significarão a diferença entre vida e morte. (30)
Muito do que nos legara pode ser re-programado: somos fruto mas não escravos, o olhar primordial que nos saudou não é necessariamente uma sentença de morte. Podemos –tarefa ingrata- fazer nossos acréscimos, escrever uma “errata” sobre o texto daquele prefácio de nós. (32)
Auto-estima é o que me vem à mente.
Visão positiva, não cor-de-rosa ou irreal significando confiança. Capacidade de alegria, busca de felicidade, crenças. O que de melhor posso fazer, como ser inteiro e feliz, dentro de minhas possibilidades –que geralmente extrapolam aquilo em que acreditamos ou nos fazem crer (...).
Auto-estima me lembra o que dizia meu amardo Erico Verissimo: “Eu me amo mas não me admiro.” (33)
Sair do estabelecido e habitual, mesmo ruim, é sempre perturbador.
O desejo de ser mais livre é forte, o medo de sair da situação conhecida, por pior que ela seja, pode ser maior ainda. Para nos reorganizarmos precisamos nos desmontar, refazer esse enigma nosso e descobrir qual é, afinal, o projeto de cada um de nós. (34)
Não preciso ser um rei para ser importante, mas devo me sentir apreciado.
(...) Devo me considerar capaz e merecedor, sem megalomania, sem alienação. Dentro do que está aí para que eu o escolha, o modifique , o faça meu.
(...) Gosto de mim na medida em que acredito na minha dignidade, quero me expandir conforme meu valor. E também segundo acho que vale a pena esse salto, esse crescimento, essa entrega. Depende de minha confiança. (35)
Preparar alguém para viver não se faz com frases, mas convivendo. (47)
Somos emocionalmente tão rasteiros que os afetos são um dever? (49)
Pior: muito mais do que palavras, falam em nós o gesto, a voz, o olhar, a química que exalamos. Isso que impera em nosso quarto, nossa cama, nossa casa, nossa mesa –essa aura que distingue pessoas e grupos: afeto ou intolerância, parceria ou deslealdade. (49)
Se nos valorizamos pouco não só tendem a manter as coisas como estão (ruim o que conheço pior o que ignoro), mas tomamos –ou não tomamos- decisões por medo. Medo da solidão, de sermos incapazes de decidir sozinhas, medo da opinião dos outros, medo.
Quem se subestima precisa de alguém ao lado para confirmar sua validade como pessoa. Nessa situação não se dialoga, pois o equilíbrio da balança está demais prejudicado. (70)
Embora a ambigüidade nossa torne tudo mais interessante pela multiplicidade de opções e interpretações, por outro lado nos aprisiona na gangorra da indecisão. (70-71)
Permanecemos, em algumas coisas, crianças –saboreando os privilégios e sofrendo os limites dessa condição. (71)
(...) Para viver, para saborear positivamente as transformações todas: “em certos momentos não é o amor que nos salva”, me dizia um amigo, “é o humor”.
O bom-humor é uma qualidade atraente e uma atitude sábia.
Não se trata de sarcasmo, de divertir-se à custa dos outros, mas de rir de si mesmo na hora certa, respeitar-se e amar-se, mas não se julgar sempre injustiçado e agredido. (73)
Temos escolha, mas somos inseguros. Podemos mudar, mas não acreditamos nisso. Boa parte dessa hesitação vem de fora, de palpites alheios, de propósitos superficiais, de modelos tolos. (107)
Se aceito a idéia de que tudo se encerra quando acaba a juventude, minha possibilidade de ser alguém válido diminui a cada ano. Essa perspectiva produz inércia e desperdício de talentos que poderiam ser cultivados até o fim, sem importar a idade. (108)
Pois viver deveria ser –até o último pensamento e o derradeiro olhar- transformar-se. (16)
Somos autores de boa parte de nossas escolhas e omissões, audácia ou acomodação, nossa esperança e fraternidade ou nossa desconfiança. Sobretudo, devemos resolver como empregamos e saboreamos nosso tempo, que é afinal sempre o tempo presente. (16)
Nisso reside nossa possível tragédia: o desperdício de uma vida com seus talentos truncados se não conseguimos ver ou não tivermos audácia para mudar para melhor –em qualquer momento, e em qualquer idade. (22)
(...) A utopia será o terreno da nossa liberdade. Ou acabaremos como focas treinadas cumprindo corretamente nossas tarefas, mas soterrando aquilo que chamamos psique, eu, self, ou simplesmente alma. (24)
Compreendi que a aparente indiferença dos outros com minhas imaginações infantis não era porque estivessem desinteressados ou eu não soubesse explicar direito. Era porque o pensado e o real não se distinguem nem cabem em palavras, e isso não se comunica. (25)
Uma arena de combates destrutivos me prepara tão mal para ser uma pessoa inteira quanto o sossego artificial dos problemas ignorados. (29)
Não podemos alterar o passado. Dramas familiares podem ser raízes venenosas por baixo da terra do convívio ou da alma. A lei do silêncio, do segredo obsessivo, pode constituir grave perturbação. Mas podemos mudar nossa postura em relação a todo isso, ainda que em longos e dolorosos processos, que significarão a diferença entre vida e morte. (30)
Muito do que nos legara pode ser re-programado: somos fruto mas não escravos, o olhar primordial que nos saudou não é necessariamente uma sentença de morte. Podemos –tarefa ingrata- fazer nossos acréscimos, escrever uma “errata” sobre o texto daquele prefácio de nós. (32)
Auto-estima é o que me vem à mente.
Visão positiva, não cor-de-rosa ou irreal significando confiança. Capacidade de alegria, busca de felicidade, crenças. O que de melhor posso fazer, como ser inteiro e feliz, dentro de minhas possibilidades –que geralmente extrapolam aquilo em que acreditamos ou nos fazem crer (...).
Auto-estima me lembra o que dizia meu amardo Erico Verissimo: “Eu me amo mas não me admiro.” (33)
Sair do estabelecido e habitual, mesmo ruim, é sempre perturbador.
O desejo de ser mais livre é forte, o medo de sair da situação conhecida, por pior que ela seja, pode ser maior ainda. Para nos reorganizarmos precisamos nos desmontar, refazer esse enigma nosso e descobrir qual é, afinal, o projeto de cada um de nós. (34)
Não preciso ser um rei para ser importante, mas devo me sentir apreciado.
(...) Devo me considerar capaz e merecedor, sem megalomania, sem alienação. Dentro do que está aí para que eu o escolha, o modifique , o faça meu.
(...) Gosto de mim na medida em que acredito na minha dignidade, quero me expandir conforme meu valor. E também segundo acho que vale a pena esse salto, esse crescimento, essa entrega. Depende de minha confiança. (35)
Preparar alguém para viver não se faz com frases, mas convivendo. (47)
Somos emocionalmente tão rasteiros que os afetos são um dever? (49)
Pior: muito mais do que palavras, falam em nós o gesto, a voz, o olhar, a química que exalamos. Isso que impera em nosso quarto, nossa cama, nossa casa, nossa mesa –essa aura que distingue pessoas e grupos: afeto ou intolerância, parceria ou deslealdade. (49)
Se nos valorizamos pouco não só tendem a manter as coisas como estão (ruim o que conheço pior o que ignoro), mas tomamos –ou não tomamos- decisões por medo. Medo da solidão, de sermos incapazes de decidir sozinhas, medo da opinião dos outros, medo.
Quem se subestima precisa de alguém ao lado para confirmar sua validade como pessoa. Nessa situação não se dialoga, pois o equilíbrio da balança está demais prejudicado. (70)
Embora a ambigüidade nossa torne tudo mais interessante pela multiplicidade de opções e interpretações, por outro lado nos aprisiona na gangorra da indecisão. (70-71)
Permanecemos, em algumas coisas, crianças –saboreando os privilégios e sofrendo os limites dessa condição. (71)
(...) Para viver, para saborear positivamente as transformações todas: “em certos momentos não é o amor que nos salva”, me dizia um amigo, “é o humor”.
O bom-humor é uma qualidade atraente e uma atitude sábia.
Não se trata de sarcasmo, de divertir-se à custa dos outros, mas de rir de si mesmo na hora certa, respeitar-se e amar-se, mas não se julgar sempre injustiçado e agredido. (73)
Temos escolha, mas somos inseguros. Podemos mudar, mas não acreditamos nisso. Boa parte dessa hesitação vem de fora, de palpites alheios, de propósitos superficiais, de modelos tolos. (107)
Se aceito a idéia de que tudo se encerra quando acaba a juventude, minha possibilidade de ser alguém válido diminui a cada ano. Essa perspectiva produz inércia e desperdício de talentos que poderiam ser cultivados até o fim, sem importar a idade. (108)
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* Lya Luft, Perdas & Ganhos, Editora Record, 2004.
* Lya Luft, Pèrdues i Guanys, Edicions 62, Col. Èxits, núm. 68, traducció de Carles Sans.
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