ER: Percebo barbárie em certas manifestações cientificistas,
[...], na medida em que se trata fundamentalmente, sempre, de reduzir o humano
a um corpo sem sujeito. É útil a meu ver reler, a esse propósito, a famosa
conferência de Georges Canguilhem, "O cérebro e o pensamento", na
qual denuncia como uma barbárie qualquer forma de psicologia que pretendesse se
apoiar na biologia e na fisiologia para afirmar que o pensamento seria apenas
efeito de uma secreção do cérebro...
JD: Reações ético-jurídicas na deveriam se moelar nessa
caricatura cientificista...
ER: Os partidários do que chamamos de
cognitivo-comportamentalismo acreditam realmente que um dia poderemos
prescindir totalmente dos conceitos de sujeito, de inconsciente e
consciência...
JD: O direito ocidental é o lugar próprio, um lugar
privilegiado em todo caso, da emergência e d autoridade do sujeito, do conceito
de sujeito. Se ele está mantido no direito, está por toda a parte. Como
extirparíamos o sujeito do direito?
ER: Como uma sobrevivência necessária para a representação do laço social. Nesse contexto, tratar-se ia de manter a existência de um sujeito da ética ou da responsabilidade, desprovido de qualquer ancoragem numa realidade psíquica, afetiva, pulsional. Isso nada tem a ver, naturalmente, com o sujeito da ética de que fala Foucault e que é um sujeito em vias de se inventar desprendendo-se de si mesmo...
* * *
JD: ... É preciso também saber que sem algum não-saber, nada
acontece que mereça o nome de "acontecimento".
Jacques Derrida & Elisabeth Roudinesco, 'De que
amanhã...', Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
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